segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Rebelião 33: Deus Ex Machina (parte 2 de 3)


Parte 1


RECAPITULANDO: Thiago, um Guerrilheiro e Gilda, uma Venerável (duas das Linhagens que representam os Nefilim em nosso mundo) invadiram um laboratório da RAM, na tentativa de encontrar um amigo de sua Congregação. Este amigo era Clow – outro Nefilim, só que da Linhagem dos Acólitos – que fora presumivelmente capturado por elementos desta organização. Só que ao encontrar seu amigo, os dois tiveram uma surpresa desagradável: uma experiência o havia transformado em uma espécie de ciborgue. Os dois amigos sabiam que a RAM secretamente tentava capturar e estudar os Nefilim (mesmo sem saber ao certo o que estes eram), mas a visão do amigo reduzido a um resto do que era antes, tratado como uma coisa sub-humana, os chocou profundamente.

- Cobaia 37, confirmada a ordem: elimine os intrusos!


A reação fora imediata à ordem dada pelo misterioso ser que falava através do comunicador na parede. Clow – ou a “Cobaia 37” – movia-se com uma certa agilidade, apesar das próteses. Ao se virar primeiro na direção de Gilda, um zunido estranho surgiu na altura de sua cabeça e uma espécie de mini-canhão veio deslizando de trás de seu pescoço e por cima de sua cabeça, estacionando exatamente na altura de seu olho esquerdo.


Atordoada com a visão, Gilda não se move, tornando-se um alvo fácil para o seu amigo robotizado. O disparo sônico só não a atinge por causa de Thiago, que acionando sua incrível velocidade, desliza como um borrão pela sala e tira a Venerável do caminho do disparo. Este acerta em cheio o teclado que serve para digitar o código de entrada através da única porta existente, destruindo-o

.
- Sua louca, acorde! – brada Thiago – Agora é hora de combater e não de ficar feito uma pateta...


Ele então percebe, seu movimento repentino pegou sua amiga de surpresa e ao deslocá-la ele provavelmente quebrou seu pescoço. Se ela fosse humana, estaria morta. Como era metade filha de um anjo (mesmo caído) ela apenas estava desmaiada. Thiago se vira furioso para Clow. Na verdade, ele estava mais furioso com a ingenuidade deles – entrando assim em uma armadilha tão óbvia –, com a visão que o homem por trás do comunicador tinha deles e com o fato de sua amiga estar desmaiada devido à sua ação desastrada. Mas era Clow que estava ali para apanhar, então era o que ele iria fazer.
- Cara, eu tava pensando em aliviar um pouco com você... pela nossa amizade. Mas não vai dar! Agora aguenta!


Imediatamente, Clow faz um movimento robótico estranho. Ele gira os braços e arqueia as pernas como um lutador de artes marciais se preparando para a luta. Com uma das mãos faz um rápido movimento, chamando Thiago para a luta, imitando Bruce Lee! Seria engraçado se não fosse trágico. Thiago ri. Primeiro, de forma espontânea, depois vai modificando sarcasticamente.


- Você não tem a menor chance contra mim, defensor de carne podre!


Ele parte como um raio, numa velocidade espantosa, na direção de Clow. Mas este, além dos aparatos mecânicos, também tinha suas capacidades herdadas e então, ele simplesmente... desapareceu. E apareceu em outro canto. Desapareceu novamente. E reapareceu em outro canto. Piscando dentro da sala, ele parecia o efeito especial ruim de um filme de segunda. Mas isso teve sua utilidade. Thiago ficou sem saber aonde esse movimento terminaria e quando Clow surgiu atrás dele, um pouco à direita, ele estava desprevenido.


Imediatamente a mão direita de Clow, coberta por uma manopla tecnológica, começou a faiscar com grande quantidade de eletricidade. A voz do Acólito sai robótica:


- Tenho ordens para destruí-lo.


O ato de falar salvou Thiago do choque. Seus reflexos de combatente sempre exigidos pelos de sua Linhagem dominaram seu corpo, que reagiu antes que este pensasse. O Guerrilheiro se agacha e dá um rápido rolamento, fazendo com que a manopla fatal alcance a parede. Imediatamente, a descarga percorre os delicados circuitos que coordenam as mais diversas funções tecnológicas da sala. O efeito disso é sentido em dois acontecimentos: a luz se apaga e o comunicador se torna um chiado persistente.


Neste exato momento, uma placa do ombro de Clow cai, mostrando seu ombro descoberto por baixo. Ele olha para a placa no chão, para o ombro, para Thiago e exclama:


- Ops!


No mesmo instante, Gilda se levanta, Thiago relaxa a guarda e Clow assume uma aparência perfeitamente normal, com próteses se soltando e caindo constantemente de seu corpo. Clow fala novamente:


- E aí, pessoal, tudo beleza?


Thiago dá um passo à frente e aperta o amigo em um grande abraço. Meio que esbarra nele no escuro, o que provoca um gemido em Clow.


- Seu canalha! Que susto nos deu!


Clow responde: - Peraí, tá meio escuro aqui... deixe-me cuidar disso!


No mesmo instante, uma luz suave e com um brilho sobrenatural começa a vibrar em sua mão, iluminando o ambiente. Desta forma, os amigos puderam se ver e ficou claro para todos que nenhuma peça implantada sobrara no corpo do Acólito. Todas estavam no chão.


- Essa capacidadezinha de regeneração que a gente tem é do car...


- Já entendemos, Clow... – cortou Gilda, antes que o palavrão saísse – ...o seu sistema de regeneração não aceitou os implantes!


Clow não parece ter percebido o fora que estava dando. Nem Thiago, que simplesmente comentou:


- Cara, se você não faz o movimento estilo “Bruce Lee”... – vira-se para Gilda – ... e ela não me comunicasse com sua incrível habilidade de telepatia, eu teria te arrebentado todo!


- Ei, duvido! Mas de qualquer maneira, quando percebi o que os idiotas da RAM queriam, achei que seria divertido deixar eles tentarem... – sorri – ... controle neurológico do sistema nervoso é o cacete! Quando me trouxeram para cá, percebi que era por causa de vocês e assim que a “dupla dinâmica” entrou, mandei um recado mental rapidinho para nossa amiga...


- ...e como eu vasculhei sua mente quando te vi naquele estado, percebi logo o que ocorria. – Gilda sorriu – Depois, foi só fingir o desmaio para ser ignorada enquanto agia avisando você, Thiago, para que a luta fosse coreografada o bastante para nos isolar aqui. Agora vamos achar o desgraçado por trás dos microfones!


- Como? – Pergunta Thiago.


- Simples, eu estava conversando com um espectro enquanto vocês fingiam que lutavam e ele me contou onde localizar o nosso amigo. Decorar o mapa que conseguimos foi um bom negócio afinal!


Clow retruca: - Manda o seu fantasminha levar a gente lá...


- Não posso... – responde Gilda – ... você o espantou quando acionou a Centelha Ofuscante.


- Ah, tá...


Um barulho de maçarico começa a vir da porta. Thiago comenta.


- Hum... acho que o chefão mandou invadir. – garras começam a surgir em suas mãos – É hora de usar a minha tática e brincarmos um pouco com o pessoal...


- Que tática? – pergunta Gilda.


Um sorriso sinistro se forma no rosto de Thiago, o sorriso selvagem de quem gosta daquilo que está prestes a provocar, mesmo não sendo muito legal.


- A tática do terror...

Continua...

DEUS EX MACHINA (parte 2) foi escrito por Danilo Faria

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