segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Rebelião 46: No Coração das Trevas

No sereno e orgulhoso Início, só havia o puro e infinito Caos, onde o germe de todas as coisas repousava em harmonia.

Então um nefasto acidente, que alguns chamam de Luz, aconteceu, dilacerando as entranhas das Trevas inocentes.

E tudo começou a sofrer horríveis alterações, e para manter seu reinado terrível, a Luz gerou seus deuses guerreiros para disseminar seus efeitos nocivos por toda a Eternidade, e criou uma raça de escravos para adorá-la e temê-la. Assim nasceram os humanos, feitos de uma mistura de sangue e lama, maculados por uma fagulha dos deuses resplandecentes. E os escravos cresceram e se multiplicaram, adorando os seus algozes divinos e cultuando a temível Luz cegante.

Mas um dia nasceu uma mulher, a mais sábia de todos os sofredores humanos, a quem chamamos de Pandora. A ela foi confiada a guarda de uma caixa, cujo poder os filhos do fulgor temiam e queriam manter escondida. Mas Pandora era inteligente demais para ser uma simples serva e em vez de guardá-la, ela abriu a caixa, libertando entidades mais antigas que o próprio Universo, os filhos dos irmãos Érebo e Noite. Érebo encontrou um abrigo embaixo da terra, e assim nasceram as trevas eternas do Subterrâneo, enquanto sua irmã-esposa Noite decidiu alojar-se no Céu. Sua extensa prole, composta por tudo o que faz os humanos diferentes, espalhou-se pelo mundo, e assim nossa pobre raça mortal conseguiu finalmente almejar a libertação da tirania dos deuses da Ordem.

A inveja dos exércitos brilhantes tornou-se incomensurável, e eles quiseram atacar e aniquilar a Noite. Mas o poder da deusa tenebrosa era tão grande, que ela renascia à cada vez que a destruíam. É por isso que até hoje a Noite mantém seu ciclo de começo e fim, sempre renascendo para lembrar aos homens que as trevas estão à espreita.

O Fulgor não foi capaz de conter sua violência, e mandou seus soldados caçaram a sábia Pandora, matando-a e esquartejando-a. Mas ao enfrentar as Trevas, muitos dos antigos campeões da Luz foram tocados e transformados. E estes deuses transmutados recuperaram as partes do cadáver de Pandora, juntando-os com magia. Estes deuses são muitos, tais como Hekate, Ladon, Seth, Ekhidna, Summanus, Mephitis, Askalaphus, Acca, Nessos, Melanaigis, Mot e ainda outros cujos nomes não devemos dizer agora, que protegem os humanos heróicos que desejam libertar-se dos grilhões das hostes fulgurantes. Os portões do Subterrâneo estão por todas as partes do mundo, para aqueles que souberem e quiserem enxergá-los.

Manter as passagens para as Trevas abertas e ativas é a importante tarefa de nós, Cultistas. Eu sou Antonia Polatton, e meu colega e amante chama-se Gerard Bonifazius. A Luz envolveu o mundo uma teia sagrada de mentiras e opressão. Cabe a nós dessacralizar o mundo, e na profanação restaurar o antigo poder das Trevas e do Caos.

Os dois cordeiros estão mortos e decapitados, seu sangue cobre a enorme laje de granito. Treze horrendas gárgulas de expressões diabólicas rodeiam a câmara mortuária.

Gerard chega trazendo um fígado sangrento nas mãos. Um fogo amarelo-esverdeado arde na pira de cobre que ilumina meu rosto. Simplicio, o Cultista mais velho de nosso grupo, traz respeitosamente o antigo punhal litúrgico, coberto de sangue coagulado. As marcas dos antigos sacrifícios jamais devem ser apagadas, como lembrança de que o Culto é muito antigo, e para honrar aqueles que nos antecederam.

A vítima principal do sacrifício está sendo trazida, seu corpo delicado preso com tiras grossas de couro.A sacrificada será uma jovem virgem de uns 16 anos. Ela foi uma escrava complacente dos tiranos da Luz, e lutou desesperadamente para evitar sua captura, mas agora está sedada e mansa. Nós a libertaremos de sua prisão de carne, e seu sacrifício irá restaurar o poder dos seis cultistas aqui reunidos. Nós combatemos inimigos poderosos e implacáveis, e necessitamos de muita força para manter o portal funcionando.

A menina é colocada sobre a laje entre os dois cordeiros abatidos, num ponto marcado por inscrições rituais. Sob efeito das drogas narcóticas, ela sorri para nós. Eu ergo o punhal, e o cravo com firmeza em seu peito. O sangue jorra abundante, assinalando mais uma pequena batalha vencida.

Os portões do Subterrâneo sempre estarão abertos para aqueles que não tiverem medo de conseguir as chaves.

NO CORAÇÃO DAS TREVAS foi escrito por Simoes Lopes

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