segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Rebelião 37: O Bando, o Baixinho e o Barbado


Cinco horas da manhã. Os raios do sol ainda não despontavam no horizonte. Um grupo de jovens euforicamente excitados saía de uma boate, chutando latas de lixo, e cantando em voz alta. Junto a eles, um indivíduo se sobressaía pela altura. Pela pouca altura, devemos dizer, menos de um metro e sessenta. Trajava camiseta vermelha e jeans rasgados, embora não baratos. Os cabelos eram descoloridos artificialmente e os braços mostravam versos em francês tatuados. Alguns piercings decoravam seu rosto. A turba virou a esquina, e enquanto um deles se abaixava para vomitar, outro olhava com um sorrisinho diabólico para um mendigo que dormia em um banco.

Não foi preciso pronunciar uma única palavra. Automaticamente o bando compreendeu seus planos, pois, afinal de contas, não era a primeira vez que faziam isso. Em poucos segundos, a chama de um isqueiro era encostada no casaco encardido do pobre mendigo. O baixinho sentou-se no meio-fio, tirando um pacote de biscoitos do bolso. Um deles se virou para o sujeito de braços tatuados, convidando: - aí, cara, vamos zoar o otário?

- Não, eu prefiro ficar aqui, assistindo de “camarote” – respondeu o sujeito, esfregando as mãos de satisfação.

A pobre vítima já estava em chamas. Para surpresa de todos, o maltrapilho não parecia demonstrar medo, e as chamas apagaram instantaneamente. O mendigo não alto nem baixo, tinha cabelos negros lisos e compridos, e barba cerrada. A súbita extinção das chamas causou uma explosão de desapontamento nos jovens. Eles cercaram o homem, chutando e socando. O sujeito caiu no chão, e um violento pontapé acertou-lhe a nuca, enquanto algo metálico apertava-lhe a barriga. De longe, o francês baixinho se divertia com a cena.

Um dos atacantes, que parecia ser o mais novo, chutava com vontade. Um chute. Um segundo chute. Um terceiro... Seu pé estava preso. O barbudo o segurava pelo tornozelo com uma força absurda. Olhava-o com um ar triste.

O que aconteceu em seguida foi muito rápido. Rápido demais para descrever de forma exata, por isso imagine-a em câmera lenta. Com uma rápida torção, o indigente quebrou a perna do adolescente, ao mesmo tempo em que se levantava. Alguém brandiu uma garrafa de forma ameaçadora, mas um punho lhe acertou com violência na cara. A garrafa espatifou-se no chão, e os dois bêbados restantes atacaram juntos. Um novo movimento de esquiva fez com que os dois se acertassem, derrubando-se mutuamente. Uma matilha de vira-latas malhados surgiu do beco escuro e pôs os dois para correr. O cara de dentes quebrados tentou um novo ataque, mas um chute no peito o pôs a nocaute, caindo por cima do seu companheiro de joelho torcido.

O mendigo agora caminhava na direção do quinto elemento, que batia palmas. Ao fundo se ouviam alguns fracos gemidos de dor, e vários dentes se espalhavam pela calçada, com as esperadas poças de sangue. O barbudo estava furioso com o baixinho de cabelos platinados.

- Este seu perfume fedorento deve estar enlouquecendo os cães do bairro inteiro. Quantos milhares vocês gastou nesta porcaria, Louis?

- Ora, eu não vou perder meu tempo explicando isso para um Primal! Até que foi divertido, Ramón! Os quatro vão se lembrar disto para o resto da vida...

- Sabe, eles não são muito diferentes de você e seus irmãos. Talvez um dia apareça alguém para dar uma surra nos Guerrilheiros e colocá-los de castigo! – disse rindo, enquanto filava o pacote de biscoito do bolso de Ramón.

- Vou fingir que não ouvi, meu caro amigo despossuído. Para mostrar que sou seu amigo, toma aqui um dinheirinho! – disse, tentando enfiar um punhado de notas no bolso esfarrapado do casaco chamuscado.

- Enfia o dinheirinho no ...

O BANDO, O BAIXINHO E O BARBADO foi escrito por Simoes Lopes

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