segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Rebelião 45: Palavras na Areia


Emma Drew entrou rapidamente no hotel sem cumprimentar ninguém e sequer olhar para os lados. Dirigiu-se imediatamente ao elevador principal e subiu para o décimo andar, onde estava hospedada. A bela e elegante jamaicana, com cabelos precocemente brancos, presos num coque, havia chegado ontem no Aeroporto do Galeão. Assim que as portas do elevador abriram-se, dois homens de baixa estatura a esperavam bem em frente à porta do seu quarto.

A presença deles não surpreendeu Emma: eram Salvador Ponce e Aristides Leal. Cada um trazia no pescoço uma tatuagem mística, visível apenas para os olhos sobre-humanos da jamaicana.

Ela abriu a porta delicadamente, e convidou-os a acompanhá-la. Os dois homens se limitaram a dar uns três passos para dentro, e sem nenhuma apresentação prévia, um deles tirou um livrinho do bolso e disse:

— Shafneth, aqui estão as instruções necessárias, leia.

A jamaicana abriu o livro, estava todo escrito à mão, e as anotações traziam tudo o que seria necessário para a sua nova missão, fosse ela qual fosse. Nem ela sabia ainda o que viera fazer no Brasil.

Salvador e Aristides eram Pastores. Cabia a eles a importante tarefa de orientar e assistir aos Aishim, os humanos abençoados pelos poderes celestes, como Emma e sua falecida irmã Hannah.

Laconicamente, os dois homens atarracados saíram em silêncio, entraram no elevador e não mais retornaram. A mulher negra fechou a porta, após vasculhar cuidadosamente as imediações com seus sentidos sobrenaturais. Quem visse aquela bela moça jamais suspeitaria que ela tinha na verdade 212 anos de idade.

Emma fechou as janelas e apagou todas as luzes, mergulhando seus aposentos na mais completa escuridão. Ajoelhou-se e começou a rezar. Esvaziando uma caixa de madeira, derramou uma boa quantidade de areia branca no carpete.

Fechou os olhos e orou com todas as forças. Clamou pelo anjo Sandalfon, seu mestre e tutor.

Uma faísca saltou no meio dos grãos de areia, seguida por outra mais forte. Depois outra. E mais outra.

Num instante, o punhado de areia estava envolvido num clarão elétrico.

As faíscas cessaram após uma fração de segundo, o suficiente para Emma ler o seu próprio nome angelical, SHAFNETH, gravado na areia com as letras de um alfabeto desconhecido. Um raio saltou do chão atingindo a moça na testa. Sua pele começou a ser envolvida por um brilho intenso. Ao abrir os olhos, estes pareciam duas bolas de fogo.

A seus pés, as descargas elétricas fervilharam de novo. Quando cessaram pela segunda vez, uma nova mensagem estava gravada no chão arenoso.

Emma Drew leu com muita atenção. Após um breve momento de meditação, passou os pés pela areia ainda quente, desmanchando a mensagem. O aspecto semidivino da moça desfez-se assim que ela gradualmente voltou ao normal. Mais uma vez acendeu as luzes, começando a estudar com cuidado o livro deixado pelos Pastores.

O próprio Sandalfon falara com ela, e elucidara sua mais nova missão.

Caçar o odioso Híbrido responsável pela morte de dois Aishim em Viena. Este Nefilim estava no Rio de Janeiro agora.

Mas seus dias estavam contados, pois Shafneth, que também era conhecida como Emma Drew, estava prestes a partir em seu encalço.

PALAVRAS NA AREIA foi escrito por Simoes Lopes

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