segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Rebelião 36: Deus Ex Machina (parte 3 de 3)


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RECAPITULANDO: Thiago, um Guerrilheiro e Gilda, uma Venerável (duas das Linhagens que representam os Nefilim em nosso mundo) invadiram um laboratório da RAM, na tentativa de encontrar um amigo de sua Congregação. Este amigo era Clow – outro Nefilim, só que da Linhagem dos Acólitos – que fora presumivelmente capturado por elementos desta organização. Os técnicos da organização tentaram transformar Clow numa espécie de ciborgue de combate; o que falhou devido a incrível capacidade regenerativa dos Nefilim. Usando de subterfúgios, os três amigos conseguem fingir uma luta e se isolar numa sala. Clow foi encontrado, tudo o que eles precisam agora é sair dali e encontrar o responsável por essa afronta...

Os seguranças da RAM costumavam ser bem treinados – em especial aqueles que trabalhavam num setor daqueles – mas eles realmente não esperavam encontrar o que viram ao arrombar a porta.

Uma linda garota ruiva olhava para eles com uma expressão estilo “ninfeta”, a alça do vestido caindo do ombro e o dedo indicador da mão esquerda sendo mordiscado. Ela estava sentada no tablado, com as pontas dos pés tocando o chão. Sua mão direita repousada entre as pernas e os ombros encolhidos completava a visão surpreendente e imprimia um ar indefeso para ela.

Apenas por um segundo, o comandante do pelotão vacilou. Mas foi o suficiente. A sugestão em sua mente não encontrou resistência e ele emitiu a ordem:

- Todos de bruços no chão! Rápido!

Treinados para obedecer, os agentes agem sem pensar. Quando o comandante percebe o que aconteceu, tenta corrigir. Mas é tarde. Da escuridão, surgem mãos que o imobiliza, tapa sua boca e retira as suas armas. Usado como refém, o comandante é obrigado a ouvir a ordem vinda de alguém bem alto ao seu lado:

- E coloquem as mãos atrás da nuca. Se todos permanecerem deitados e quietos, ninguém se machuca.

- E acreditem: machucar é o que esse cara mais gosta. – explicita Clow.

Gilda começa a pegar as armas dos soldados. Um ou dois agentes ainda tentam levantar a cabeça para entender o que ocorre, mas são imediatamente desencorajados por chutes dados pela Nefilim.
- Que tal, ao invés de dar uma de “ajudante de filme de ação de segunda”, você fazer a sua parte, Clow? – Ela incita, um tanto irritada.

Clow olha rapidamente para sua amiga, mas se concentra. Apenas os dois amigos conseguem ver o surgimento de duas asas de luz nas costas dele. Contudo, eram luzes sinistras, enegrecidas, onde criaturas espectrais se retorciam em eterna dor. Ele fala, mais sério:
- Passem logo.

Os outros dois se entreolham, ligeiramente intimidados, e passam por cima dos agentes deitados. Uma névoa negra começa a se formar no ar e aos poucos vai crescendo. No final, uma verdadeira barreira negra cobria a todos os agentes deitados.

Estes simplesmente não conseguiam enxergar nada. Thiago então fala:
- Deixa comigo agora.

Na frente da névoa, uma imagem de Thiago ainda mantendo o comandante como refém aparece. Gilda fala, por sua vez:
- Ouçam bem, pois só estou com saco de falar uma vez. Essa escuridão vai se dispersar em breve. Ela serve para que vocês não vejam para onde vamos. Mas nosso amigo com seu comandante como refém vai permanecer. Portanto, não se levantem até que ele os libere. Vamos evitar mais aprendizados dolorosos, certo?

Então, os três caminham pelo corredor com seu refém. Eles nada falam até que dobram dois corredores, seguindo a orientação de Gilda.
- Certo... - diz Clow para ela - ...qual é o problema, Garota? Você ficou irritada de repente. Não precisava machucar os caras.

Eles estavam apenas cumprindo ordens...
- Eu apenas estou de saco cheio disso tudo! E esse lixo de carne podre fica querendo nos usar como... como coisas, sei lá!
- Eles não são “carne podre”, garota... são seres humanos.
- E nós estamos acima deles.
- Nós temos nossa herança humana também...
- Mas ainda assim estamos acima deles.

Nesse momento, Thiago interfere:
— Maluco, você não vê que ela está irritada com sua idéia de ter que fazer o papel de “ninfetinha sensual” para distrair os soldados? Eu te falei que era melhor sair quebrando os idiotas...

Clow reflete por um momento e então fala, sério:

— Peço desculpas. Mas pensem bem. Se partíssemos para a luta teríamos apenas um risco grande de nos ferirmos, gastarmos maná, não conseguir chegar aonde pretendemos.
— Falando em gastar maná, estou precisando dar uma recarregada de energia vital...

O comandante do pelotão, que até aquele momento ouvia tudo calado, se apavora e começa a querer se debater. Thiago ri.

— Não se preocupe, maluco. Nós não somos vampiros...
clow se aproxima de Gilda.

— Peço desculpas mais uma vez... foi uma maneira de evitar conflitos desnecessários e eu sei que, ao contrário de nosso amigo, você aprecia isso... – então um sorriso debochado aparece em seu rosto - ... além disso, você fica um tesão pô. Eu tive a tara de ver essa cena! — Gilda não segura a risada.

— Tá certo, tá certo, seu palhaço. Vamos achar esse desgraçado que responde por tudo isso, então... temos apenas que pegar o elevador privativo – ela olha então para uma câmera no corredor – Então, vamos ter que abrir o caminho à força?
— Por favor, diga que sim. Diz Thiago com um sorriso aberto cujo olhar furioso distorce.

O elevador se abre. Do auto-falante sai a voz:

— Por favor, podem deixar meu funcionário no corredor mesmo. Ninguém vai impedi-los de chegar ao meu escritório...

— Ah, tá. E o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa estarão nos esperando junto com você.. – diz Clow - ... a gente vai ficar com ele, por enquanto.

Eles entram no elevador. Este sobe até sair do nível subterrâneo e passa por um tubo de vidro que permite ver todo o pátio da impressionante instalação. Pára no ponto mais alto de todo o complexo. Quando as portas se abrem, eles vêem um luxuoso e amplo escritório, com janelas amplas, carpete importado forrando o chão, um grande bar, uma pequena mesa de reuniões, além de quadros e estátuas abstratas do mais fino gosto. Clow comenta:

— É para Precursor nenhum botar defeito...

Um homem se encontrava sentado atrás de uma ampla mesa. Os cortes de seu terno e de seu cabelo eram impecáveis.

— Entrem senhores... e senhora. Ah, e agora que já se encontram aqui, que tal deixar meu funcionário partir? Acredito que eu seria um refém mais valioso, não? – olha para Clow e Gilda – E pelo que pude perceber vocês desejam evitar que alguém se machuque desnecessariamente. Thiago é quem responde:

— Claro.

E entrega o refém para Gilda levar até o elevador. Neste momento, ele dá um salto impressionante (suas asas de metal, visível apenas para quem tem a visão mística, resplandecendo as suas costas) em direção ao homem.

Mas esse rechaça o ataque com incrível facilidade.

Sem nem mesmo se levantar, ele estica a palma de sua mão rapidamente e acerta o peito de Thiago. Um zunido estranho é ouvido, Thiago grita e é jogado para trás, caindo sobre o carpete. Seus reflexos treinados de Guerrilheiro o fazem dar um rolamento de costas e ficar rapidamente de pé assim que toca o chão.
- Mas que diabos...?

Clow desaparece. Reaparece ao lado do homem. Desaparece novamente. Aparece nas suas costas. Desaparece. Na frente novamente. Desaparece e – por último – reaparece nas suas costas. O homem permanece sentado calmamente. Clow então acerta uma tremenda coronhada com uma das armas que foi tomada dos agentes na nuca dele. Sua cabeça tomba para frente e ele não solta um ruído.

Levanta então a cabeça lentamente, sorrindo.
- Ele não é humano! - Essa afirmação fora feita por Gilda, assim que deixou o refém algemado e amordaçado no chão.
Clow então recua um pouco e olha para a cintura da coisa. Seus olhos se arregalam em espanto.
- Empresário é o cacete! Você tem razão garota...

Os outros dois contornam a mesa e observam o detalhe de que o andróide somente foi construído da cintura para cima. Suas expressões, movimentos e o fato de que este se encontrava atrás da mesa os havia enganado a todos. O robô se volta para Gilda:
- Você havia dito que era superior aos humanos. Mas nós, humanos da RAM, somos capazes de ir a alturas que você nem imagina. Em breve, poderemos dar movimento e durabilidade para estes andróides a um nível inimaginável. Se vocês são mais que humanos, nós somos verdadeiros “deuses na máquina”!

Thiago rapidamente se recupera:
- Vamos embora daqui. Ele está nos distraindo para que mais seguranças cheguem. Esta porcaria é controlada a distância e nós não vamos encontrar ele mesmo...
- Então vamos causar uma distração também... – diz Gilda - ... Thiago, você não precisava de maná? Eu também. E aposto que Clow...

Thiago sorri e dá a mão a amiga. Clow faz a mesma coisa, mas antes de se concentrarem ele diz:
- Bom, espero que ninguém se machuque...

Thiago responde, com um sorriso cruel: - Que ninguém se machuque é o cacete!

Os três se concentram e invocam o maná. Invocam com tudo o que podiam, absorvendo toda a quintessência da vida existente no local. Quando os seguranças invadem o lugar, relâmpagos e ventos poderosos destruíam o escritório. Todos foram jogados para fora, varridos como objetos leves numa tormenta. Alguns ainda viram raios que saíam o andróide parcialmente destruído em direção aos dois rapazes e uma garota que – de mãos dadas – flutuavam no olho do furacão.

Mas eles não pararam por aí.

Absorveram tanta energia em um único momento, que todo o complexo foi afetado. Quando a energia caiu, os geradores reservas simplesmente não funcionaram. E a RAM pagou o caro preço de se envolver com seres que têm o Céu e o Inferno coabitando em suas entranhas.

* * *

Foi fácil para eles fugirem em meio ao caos que se instalou. Criaturas que estavam servindo de cobaia fugiram, elevadores pararam, computadores pifaram (alguns explodiram seus monitores), lâmpadas estouravam nos seus bocais, setores que tinham portas eletrônicas ficaram trancados enquanto o ar-condicionado central parou, entre outras coisas.

Nos jornais, uma “falha técnica” foi indicada como a causa de tamanho problema. Alguns deputados queriam criar uma comissão para investigar o que ocorreu (o que significava que muito dinheiro seria perdido com esse movimento) e feridos com seus parentes exigiam explicações e/ou ressarcimento.

Todavia, os principais protagonistas deste evento não estavam preocupados com isso. Tanto na Congregação da cidade como entre os diretores da RAM, movimentos e preparativos eram feitos. Os dois lados haviam ido longe demais para que isso terminasse assim. A poeira teria que baixar primeiro, mas a retaliação viria; isso todos sabiam. Deuses encarnados e deuses em máquinas eram preparados.

No horizonte, uma tempestade se anuncia.

DEUS EX MACHINA foi escrito por Danilo Faria

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