domingo, 16 de dezembro de 2007

Rebelião 13: Morangos


O cheiro dos morangos silvestres envolvia o bonito jardim num suave perfume. Arbustos cuidadosamente podados formavam um curiosos padrão geométrico. No centro do jardim, Laura estava sentada, com o avental sujo de terra, e uma cesta de morangos recém-colhidos. O jardim está maravilhoso, e ela é a grande responsável por isso. O jardim é como um filho para ela.

Algo a incomodava, como um zumbido ou uma leve arrepio. Passou seus olhos de íris azul-violeta rapidamente pelos morangueiros. O senho franziu-se, e algumas faíscas começaram a se formar em pleno ar. No meio dos arbustos desenhou-se a silhueta de um homem, de barba castanha-escura e óculos escuros, todo de preto.

- Nunca mais faça isso, Neal! Não entre no meu jardim sem me avisar!

- Ora, Laura, é assim que os Guardiaens tratam os amigos? – comentou com irreverência o “intruso”.

- Sim, quando eles preferem ser invasores e não convidados! – gritou ela, enquanto tirava a terra do avental – Nunca mais faça isso! No meu território, não!

- Calma, Laurinha. Sorry. Tenho assuntos importantes a tratar.

- Então vamos entrar – disse ela, enquanto o “escoltava” pela trilha de terra batida até a sua casa. Após deixar a cesta de morangos encima da mesa da copa, Laura foi até a sala e se atirou num grande almofadão. Neal Moore, seu amigo inglês, continuava em pé.

- Não quer tirar a fantasia? Está meio quente para um sobretudo...

- Legal, né? Tá com inveja, baby?

- O dia que tiver inveja de um Guerrilheiro, é porque o Sheol se aproxima!

O inglês fez uma cara de desdém, coçou os bigodes, e deixou o sobretudo pendurado numa cadeira de vime. Viu que era a hora de mudar de assunto.

- Soube que sua amiga Visionária andou invadindo um templo de uma seita celeste, confirma?

- Parece que sim.

- E o que ela descobriu?

- Só perguntando para ela, o que não vai ser nada fácil. Depois daquele dia, ela tem evitado falar no assunto.

Neal coçou os bigodes mais uma vez, deu uma leve erguida nos óculos, percorrendo com um rápido olhar as pernas bronzeadas de Laura, mal cobertas por um short minúsculo.

- It must be serious... Os morangos estão bons?

- Claro! São meus morangos, não?

O inglês passou a mão no cesto de morangos, e pegou um deles, engolindo quase inteiro.

- Ela disse que vinha hoje conversar comigo. Felizmente, nem todos meus amigos andam por aí invisíveis invadindo a casa dos outros!

O barbudo nem ouviu o que ela disse. Estava com metade do corpo enfiado na geladeira, remexendo em algo.

A garota se levantou com raiva e foi até a copa - Eu disse que ela vem aqui hoje! – repetiu, gritando nos ouvidos dele com tanta força que quase ficou sem fôlego. – Algo mais, Mr. Moore?

Neal voltou para a sala com um prato cheio de morangos. Refastelou-se no almofadão. Abriu um pequeno laptop, deu uma conferida rápida em sua agenda, e disse, com um ar inteligente.

- Não estou com pressa mesmo, darling. Temos todo tempo do mundo. Eu espero ela chegar.

Laura lançou um olhar tão gélido que até os morangueiros devem ter sentido calafrios.

Neal, alheio a tudo, enquanto mordiscava um morango bem suculento, cumprimentou Laura com um sorriso largo.

- Tem chantilly?

Ele ainda sorria quando uma maçã arremessada da copa atingiu-o como um asteróide em miniatura.

Algumas horas depois, quando sua amiga chegou, Neal Moore vestia os mesmos óculos escuros e sobretudo de sempre, agora acompanhados de um vistoso curativo no nariz. O prato de morangos continuava intacto.

MORANGOS foi escrito por Simoes Lopes

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