domingo, 16 de dezembro de 2007

Rebelião 10: Quatro Mocinhas Indefesas

O vento açoitava os soldados com um frio cortante. Exaustos, eles seguiam marchando com dificuldade pela neve. Os quatro sobreviventos da tropa, liderados pelo sargento Kurt Krüger, prosseguiam em sua longa jornada rumo ao Oeste, de volta para casa. O ano de 1942 estava sendo péssimo para o Exército Alemão. A tentativa de invadir a Rússia, isolando-a de sua linha de suprimentos ao sul, revelara-se um fracasso clamoroso. A resistência incansável dos russos, aliada ao inverno rigoroso e falta de planejamento alemão, estavam impondo uma humilhante derrota aos nazistas. Com as tropas dizimadas e enfraquecidas, muitos soldados tentavam agora o árduo caminho de volta.

O soldado Ludwig estancou de repente. Custava a acreditar no que via. Esfregou os olhos, limpando os flocos de neve suja.

- O que foi, Ludwig? Quer ficar esperando pelos russos? – irritou-se o sargento Krüger.

- Sargento... garotas...no meio da neve...

- Está vendo miragens, Ludwig? Isto aqui não é o deserto! – gritou Helmut, com sarcasmo.

- São quatro! Quatro garotas sim! Não é miragem! Vejam!

Com desdém eles deram uma olhada...e viram. Era aquilo mesmo, quatro lindas moças, juntas, quase sumindo em meio aos torvelinhos de neve.

- É mesmo! Ora, ora, um presente dos céus! Há quanto tempo...

Rupert, o mais alto do grupo, um brutamontes de barba negra e dentes amarelos, disparou em direção às mulheres, gargalhando.

O gesto explosivo de Rupert foi como fogo num rastilho de pólvora. Neste momento, todos os soldados estavam em desabalada carreira pela neve. Já haviam esquecido o cansaço e o desânimo. O sargento ficou para trás.

As garotas esboçaram uma tentativa de fuga. Rupert agarrou uma pela perna e a jogou no chão. As outras foram encurraladas com mais facilidade ainda. Uma levou uma coronhada e desmaiou. As outras foram agarradas.

- O que vocês pensam que estão fazendo, soldados? – perguntou o sargento, ofegante, o último a se juntar ao bando. Os soldados trocaram olhares, a decepção estampada em seus rostos imundos.

- Não vão chamar o seu sargento para a festinha? – brincou o sargento, provocando uma explosão de gargalhadas lascivas. Somente agora eles podiam apreciar com calma suas presas. Eram belezas para todos os tipos e gostos. Uma, alta e loura, de olhos azuis, era agarrada pelos longos cabelos por Siegfried. Rupert beijava uma de cabelos negros crespos grandes olhos de um tom verde-escuro, com uma beleza de estilo grego. Caída na neve estava a vítima de Ludwig, com o sangue escorrendo pelos cabelos castanho-avermelhados, enquanto Helmut tentava sem sucesso rasgar as roupas de um belíssima morena de traços que indicavam sangue oriental.

- Vocês querem congelar aqui fora? Não estão vendo a casa?

Só agora eles perceberam que havia uma pequena casa rústica de tijolos, de onde elas certamente tinham vindo. Helmut entendeu o recado, e começou a arrastar a morena na direção da casa.

- Vocês vão ter o privilégio de provar um pouco de amor alemão.... considerem-se felizes. Você é muda, piranha? – sussurrava Siegfried ao ouvido da loura. Ela não dizia nada, indiferente a aperto doloroso e ao hálito fétido do alemão.

As garotas foram empurradas com violência através da porta de madeira. Lá dentro, a escuridão era iluminada por um lampião velho. O fedor do óleo impregnava o local. As mulheres foram jogadas no chão. Murros. Pontapés. Sem parar. Enquanto batiam, os soldados tentavam tirar as próprias fardas de forma apressada e desajeitada. O sargento afastou Helmut de sua presa, que jazia no chão frio, já praticamente despida, com um grosso filete de sangue escorrendo do nariz, a boca ensagüentada e dentes quebrados. Com um sorriso diabólico de triunfo, o sargento lambeu a face dela.

- Não estamos aqui somente para bater... Agora vem a melhor parte...

Como que paralisada, a grega o fitava com os olhos roxos e inchados.

- Não vai dizer nada, belezinha?

Com dificuldade, e arranhando um péssimo alemão, a moça balbuciou:

- Estão aqui todos?

- Sim, é claro, meu amor, relaxem e aproveitem...

- Aproveitaremos...

Ao dizer isto, o rosto machucado e deformado instantaneamente se transformou: feridas se fechavam, dentes surgiam perfeitos e inteiros, o sorriso de triunfo agora mudava de lado.

Antes que o sargento tivesse notado que em todas elas ocorria a mesma mudança, o lampião foi derrubado com um golpe veloz e potente. O brilho da chama se extinguiu, enquanto rolava pelo chão com um estridente barulho metálico.

A escuridão envolveu a todos. No meio das trevas, luziam agora quatro pares de olhos alaranjados.

Não houve testemunhas para ouvir os berros de dor que se mesclavam ao estalo de ossos se quebrando.

O barulho foi gradativamente parando. Durante alguns minutos, só se ouvia o lamento do vento invernal.

Quatro garotas saíam pela porta. Yolanta Serina, a única delas que era realmente russa, alisava os longos cabelos loiros com a mão. Logo depois, saía Agathe Leandridis, satisfeita, e mais atrás surgiam a francesa Geneviève de Provence, carregando dois fuzis enquanto dizia algo engraçado para a indiana Gandini, agora vestida com uma farda alemã. Já era hora de partir. Aquele não era um lugar adequado para um grupo de quatro “mocinhas” indefesas.

QUATRO MOCINHAS INDEFESAS foi escrito por Simoes Lopes

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