sábado, 29 de dezembro de 2007

Rebelião 31: Highway to Hell


A garrafa de uísque já estava quase vazia. Amadeus McGee não parava de beber, desde que chegara ao pub, as dúvidas e incertezas martelando sua mente com força máxima. O organismo de um nefilim tem uma capacidade regenerativa incrivelmente poderosa, mas ele decididamente não conseguia encarar isso como uma verdadeira bênção. Sua intenção no momento era apenas uma, embebedar-se, mas seu sistema nervoso sempre acabava neutralizando os efeitos mais extremos do álcool. No rádio alguma nova bandinha de pop açucarado cantarolava seus versos insossos.

Amadeus era um Bastardo, nascido no norte da Escócia há mais de sessenta anos, mas sua aparência era de um rapaz de no máximo a metade disso. Depois de tudo que já vivera, a imortalidade era um fardo cada vez mais insuportável para o atormentado McGee.

Estava cansado de esconder-se, cansado de fugir, e principalmente, exausto de tanto lutar. O último ano fora particularmente pródigo em confrontos sangrentos e emboscadas maquiavélicas. No ardor dos combates, McGee começou a sentir a perda do seu equilíbrio anímico. Seu lado infernal estava começando a aflorar, ele tinha certeza absoluta disso. Ainda que seus amigos de Congregação negassem, ele sabia que estava perigosamente trilhando o caminho de se tornar um diávolo. Só ele percebia a noção do perigo, e a amizade nublava a inteligência dos outros, que preferiam continuar como avestruzes com as cabecinhas enfiadas no chão.

“O pior cego é aquele que se recusa a ver”. Assim pensava McGee, que numa noite estranha de verão decidiu abandonar a Congregação, se afastar de tudo e todos. O pior inimigo era o seu próprio demônio interior, ele sabia disso.

Assim, ele deixou todos para trás, amigos muito queridos, por cuja segurança McGee temia. Não podia se permitir à mera possibilidade de que seu descontrole o voltasse contra eles. E aqui estava ele, num bar vagabundo nos confins de Estocolmo, bebendo tudo o que contivesse álcool à sua frente. Pediu mais uma garrafa.

Mais um gole. E outro. E outro. Pensou em seus amigos, em Cordelia, Myrella, Kluster, Laërt e Byron. Rogou que eles jamais o reencontrassem. Cabia a ele agora a missão solitária de manter-se afastado do seu destino nefasto.

Já não sentia mais o gosto de nada. Era melhor ir embora, buscar um lugar para ficar, e meditar. Manter o equilíbrio a todo custo.

Mas ainda havia tempo para a saideira.

O barman trouxe mais uma garrafa, e atendendo a insistentes pedidos, mudou de estação.

“Se Deus existe, ele deve estar saboreando a ironia neste momentos”, pensou McGee, enquanto ouviam-se os últimos versos de uma canção do AC/DC, embalados ao som nervoso de guitarras elétricas:

And I'm going down,

all the way down

I'm on the highway to hell.

HIGHWAY TO HELL foi escrito por Simoes Lopes


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