quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Rebelião 27: Aprendizado


O Jovem permanecia ansioso diante do Velho. Este estava já há vários minutos fumando tranqüilamente um cachimbo. Após esse período angustiante, o Velho falou:

“Não me interessa o que já te disseram antes sobre o mundo ou sobre você. Afirmo que é tudo mentira. Você é um Nefilim.”

“Um o quê?”

“Cale a boca! Você é cria de um anjo que veio do Inferno – ou Sheol – após uma tentativa fracassada de tomada de poder que ocorreu por lá. Sua mãe pode ser natural, mas seu pai não é.”

“Meu pai não é...”

“Cale a boca! Nosso Genitor vaga pelo mundo gerando filhos na esperança de mudar o desenrolar do Apocalipse...”

“Apocalipse?”

“Cale a boca! Mas não somos os únicos. Ele tem irmãos. E seus irmãos também geraram filhos. Estes são nossos primos.”

“Primos?”

“Cale a boca! Nós temos a marca da imortalidade – ou Bachor – e geramos poderes divinos ou abissais como herança que nosso Pai nos legou.”

“Poderes?”

“Cale a boca! Mas esses poderes carregam em si a maldição da Danação. Devemos tomar muito cuidado ao usá-los, pois eles podem nos tornar escravos do Shamaim ou Sheol.”

“Escravos?”

“Cale a boca! Ser um Paradísio ou um Diávolo é a pior coisa que pode acontecer a um Nefilim. É preferível deixar de existir... e olha que isso é o que ocorre conosco quando morremos.”

“Deixar de existir?”

“Cale a boca! O interesse do Céu ou do...”

Agora também era demais. Ele aceitara ouvir o que aquele Velho tinha a dizer porque este se aproximou demonstrando saber os sonhos estranhos que ele vinha tendo com um grande homem de asas de relâmpago e faíscas saindo dos olhos. Como ele não contara a ninguém sobre esses sonhos recorrentes, achou que o Velho fosse um curandeiro ou coisa assim e pensou que não haveria problema nenhum em ser aconselhado por ele.

Mas então começou essa bobagem de Nefilim, Céu e Inferno – acompanhado de ofensas e tratamento rude. Quem ele pensa que é para falar assim do seu pai?

O Jovem sente então algo se enchendo nele. Uma... energia. Ele se sente confiante. Parecia que relâmpagos saiam de suas costas e faíscas de seus olhos. É isso aí! Ele ensinaria ao Velho uma lição que este nunca mais iria esquecer.

Foi então que o Velho o acertou com o murro mais impressionante que ele jamais imaginou. Tudo o que ele percebeu foi uma explosão no rosto, um clarão em seu campo visual, que seus braços tentavam se agarrar no nada e que suas pernas estavam no ar, apontando em direção ao céu da linda manhã. A seguir, suas costas atingiram o solo com um baque surdo. Acompanhando a força cinética, sua cabeça bate no chão, provocando um estalido de dor que ecoou por dentro.

O Jovem tenta se levantar apavorado, mas estava zonzo demais para que seu corpo obedecesse às ordens urgentes emitidas pelo cérebro. O Velho batia bem. O Jovem caíra à cerca de cinco passos do mesmo, num vôo espetacular. Este ainda pensara como foi sorte o parque estar vazio para que ninguém visse a sua vergonha.

O Velho chegou antes que tivesse tempo de se recuperar. O Jovem tenta se encolher, se preparando para a maior surra de sua vida... mas o outro apenas estende sua mão e o ajuda a se levantar.

O Velho observa possíveis ferimentos no rosto e na cabeça do Jovem e então fala com um carinho inexistente antes em sua voz:

“Você ainda é inexperiente, mas tem grande potencial. Desculpe se sou duro com você, mas a nossa missão é unir e preparar nossos irmãos e primos para que estejamos prontos para a Batalha Inevitável – mais conhecida como Armageddon. Portanto, devemos ser disciplinados, devemos ser o exemplo. Orgulhe-se, pois você é um Visionário, rapaz!”

Tomando coragem para falar, o Jovem esfrega o rosto e comenta:

“Cara, que soco impressionante você tem...”

“É apenas o uso de um de nossos Manifestos, os poderes que herdamos de nosso Pai...” Observa novamente possíveis ferimentos, enquanto recoloca o cachimbo na boca. “Não se preocupe, vão se curar mais rápido do que imagina. Quem dera todas as feridas pudessem ser curadas assim...”

“Mas, peraí! Você disse no início que eu era um Nefilim e agora diz que sou um Visionário. O que sou afinal?”

O rosto do Velho volta a ficar duro.

“Cale a boca! Eu tenho agora que te contar as más notícias...”

APRENDIZADO foi escrito por Danilo Faria
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